quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Bairro Santa Cruz - Sevilha

Há muitos e muitos anos, vivia um rei em Sevilha. Para ele, não existia lugar mais bonito no mundo que sua adorável cidade. O seu outro amor era a rainha, famosa por seu génio forte. Um dia, sem mais nem menos, ela lhe disse: "Me desculpe carinho, mas Granada é mais bonita que Sevilha". Ele ficou inconsolável... Não acreditava que sua amada esposa preferia a cidade vizinha. Sevilha tinha um castelo, uma igreja enorme, um clima invejável. Ali não lhe faltava nada... então, por quê? A explicação foi simples: "Em Granada neva".

No outro dia, quem passava pelas ruas de Sevilha via dezenas de homens trabalhando. Eles plantavam pequenas mudas de laranjeira pela cidade. Um amigo do rei lhe perguntou: "O que o senhor está fazendo?". Ele respondeu com um sorriso: "Espere até a primavera". Na entrada da estação, as laranjeiras estavam cheias de lindas flores brancas que, alguns meses depois, se desprendiam dos galhos e caiam suavemente nas ruas de Sevilha, como caem os flocos de neve.


Essa é uma das tantas e tantas lendas da cidade de Sevilha. Algumas são verdadeiras e outras...  pouco importa o que são. Elas dão um clima misterioso para a cidade. A maior parte delas está relacionada com Santa Cruz, o bairro onde vivia a população judaica. Este é o bairro mais pitoresco de Sevilha e chama a atenção por sua beleza e originalidade.

(Quem não queria morar numa dessas?)

Santa Cruz é um bairro para se perder. E mesmo que essa não seja a sua intenção, você vai ficar perdida da mesma maneira. As ruas são estreitas e labirínticas. As casas que circundam o bairro têm, em sua maioria, paredes brancas com as bordas amarelas, laranjas ou vermelhas. As varandas são cheias de enfeites em ferro e adornadas por plantas e flores. E entre uma ruela e outra, quando você menos espera, vai dar de cara com um pátio cheio de árvores e banquinhos com azulejo.

(Santa Cruz é um mundo a parte)

Por ser tão peculiar, o bairro se tornou um chamariz para os viajantes. Ali há uma infinidade de hotéis, restaurantes de luxo e boutiques cheias de mimos. Isso sem contar nos próprios turistas, que estão por todas as partes. Mas com sorte você encontra uma rua ou outra onde eles não existem e então você pode se sentir (por quê não?) o dono do pedaço.

(Restaurante na linda Plaza Doña Elvira, um do ponto mais visitado do bairro)

Encontrar esses pequenos oásis de paz em Santa Cruz não é difícil... difícil vai ser voltar de lá. Não conheço ninguém que nunca tenha se perdido aí e, ainda hoje, sei de poucos sevilhanos que andam pelo bairro com a segurança de que estão fazendo o caminho correto. Se perder não é um problema (longe disso...) mas para conhecer o bairro Santa Cruz sem dar volta e voltas é interessante fazer pelo menos uma vez o passeio com um guia turístico que conheça bem o local - e que possa contar algumas de suas lendas.

(Varanda perto dos famosos jardins de Murillo e linda Plaza de Santa Cruz)

Fiz um passeio com o pessoal do Sevilla Low Cost (a atividade é gratuita e, no final, cada um paga o que quer). Nos encontramos no início da noite e fizemos um percurso interessante pelo bairro, no qual a guia ia contando histórias e lendas sobre Santa Cruz de uma maneira bem divertida.

(Reza a lenda que em um dos quadros de azulejos da Igreja de São Pedro, quem não encontrar o passarinho escondido está fadado a ficar solteiro pro resto da vida)

As lendas que mais me chamaram a atenção têm a ver com a história de vida dos judeus que moravam ali. Uma delas diz respeito a matança que ocorreu em 1391, a mando do rei católico. Nesse período mais de 4 mil judeus foram mortos e alguns deles escaparam ao conseguirem se refugiar em uma rua pequena e escondida, que dava saída ao bairro. Hoje em dia essa rua se chama Calle de la vida. Já a rua na qual começou o ataque se chamava Calle de la muerte. Chamava: os residentes reclamaram tanto do seu nome que ele foi alterado.

(Nessa ruazinha estreita era interessante olhar para cima e ver que os prédios quase se tocando)

O passeio pelo bairro terminou na Plaza del Salvador. O espaço leva esse nome devido à igreja construída ainda no século XVII. Ao pé da igreja uma bela escadaria onde as pessoas descansam durante a tarde e os jovens se sentam para beber e conversar durante a noite. Em frente, bares de tapas sempre cheios de clientes, faça sol ou faça frio. Como é impossível ficar do lado de dentro, todo mundo faz o pedido e escolhe uma das mesas que fica do lado de fora. 

(Um dos melhore pontos da cidade para tapear)

4 comentários:

  1. AMEI! vc descreveu Santa cruz como ngm!

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    1. Fico feliz!! :)
      Que bom que gostou dos textos. Se eu pudesse, colocava todas as lendas que a cidade têm... mas acho que vale a pena fazer um mistério...! Hehehehe

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    2. Ju, vivo em Sevilha e trabalho com turismo. Parabéns pelo texto! Neste exato momento estou na Rua Água, justo no Bairro de Santa Cruz, apreciando um "tinto de verano" para poder resistir ao calor Sevilhano. Se voltar à cidade, por favor, me avise. Terei o prazer em conhecê-la.

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  2. Muito legal o post! Vontade de voltar pra Espanha. =)

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